quinta-feira, 4 de março de 2010

Os suicidas

Os suicidas.

Uma jovem se encontrava sozinha e estava debruçada sobre o parapeito da ponte, seu olhar estava perdido na distância que sua mente lhe fazia enxergar.
Tudo que a atormentava parecia agir fortemente em seus pensamentos naquele momento, pois parecia hipnotizada vendo as águas do rio que não paravam nunca.
A impressão que tive era de que ela pretendia se jogar.
Dizem que os suicidas não se preparam, chegam e se atiram, mas ela parecia estar refletindo, questionando todos os motivos que a trouxeram ali.
Me senti tomado por uma imensa agonia, jamais pensei presenciar tal fato e, o pior, sem chances de poder impedir.
A moça parecia decidida a se atirar nas águas daquele rio e eu me encontrava a uma boa distância dela, às margens do rio pescando.


De onde estava, tinha a visão perfeita da garota graças a um potente binóculo que trazia sempre comigo.
Gostava de contemplar as correntezas que se faziam um pouco acima de onde eu estava e também por mania.
São muitas as pessoas com manias, umas não saem de casa sem seu celular, outras sem colocar seu anel da sorte e proteção no dedo, outras sem sua câmera fotográfica, eu não saio sem meu binóculo.
Eu mantinha meus olhos grudados na figura da garota, acompanhava cada reação facial que seu rosto fazia no momento de seu pensamento. Vi as lágrimas deslizarem por sua face, gostaria de poder estar ali ao lado dela, falar com ela, tentar mostrar que a vida e muito mais que desilusões sejam amorosas ou não.

Dali onde eu estava, só podia fazer uma coisa por ela rezar para que alguém apareça e consiga a convencer a desistir de tal ato.
O lugar era no meio do nada, a vários quilômetros da cidade, poucas pessoas passavam por aquela ponte.
Uma ponte feita de madeira, uma ponte rústica que servia para passar com o gado que era usada pelos fazendeiros da região.
Eu ansiava pela presença de alguém ao lado dela e rezava para que este milagre acontecesse.

 Meu desejo foi tão forte que avistei na estrada um cavaleiro seguindo na direção da ponte, rezei mais ainda para que ele a alcançasse antes dela se atirar nas águas.
Ele estava próximo, muito próximo, eu, angustiado, pedia a Deus que permitisse que ela fosse socorrida.


O cavaleiro estava sobre a ponte, grassas a Deus, suspirei aliviado, mas para surpresa minha, ele não parou e nem sequer olhou em direção da garota, que em seguida se atirou na água.
O desespero tomou conta de mim naquele momento.

 Vi a garota se afogando e o homem do cavalo se distanciando. Gritei com toda força que tive pelo socorro àquela criatura, mas o cavaleiro sumiu em uma das curvas da estrada e a garota desapareceu naquelas águas. 


Juntei todo meu material de pesca e me pus a voltar para a cidade. Precisava comunicar às autoridades o ocorrido para que fosse feita a procura pelo corpo da jovem e se descubra quem era ela, e quem era o cavaleiro que podia ter evitado aquela tragédia e não se importou antes e nem depois dela ter se atirado no rio.


Senti algo estranho no comportamento dele, era como se ele não a tivesse visto, que era empecível não ter enxergado uma jovem tão bela usando um vestido de cores fortes, a não ser que o cavaleiro fosse sego e o cavalo treinado, assim como fazem com os cães.

Eu me sentia curioso e muito revoltado com a atitude da pessoa que não se importou com a vida da garota.
Era meu costume caminhar, gostava de fazer e duas vezes por semana eu pegava a estrada à procura de um bom local, seguindo rio abaixo para pescar.
Às vezes, andava horas despreocupado sem um pingo depressa, mas naquele momento o que mais queria era chegar na cidade e procurar por ajuda.


Contei para o delegado tudo que presenciei, detalhe por detalhe, tanto da garota como do cavaleiro, ele me ouviu sem me interromper e quando terminei, para surpresa minha, ele sabia o nome do cavaleiro, que se chamava Pedro Tinham, sabia a cor do cavalo, marrom com manchas brancas.
Fiquei mais surpreso ainda quando me falou o nome da garota. Rebeca era pai e filha, ambos suicidas.


Ela se atirou ao rio, porque o pai a proibiu de namorar um jovem empregado da fazenda.
Ela era filha única e ele o pai a tinha como uma joia somente sua, que ao saber que a garota havia se atirado ao rio de cima daquela ponte seguiu direção a mesma montado em seu belíssimo cavalo malhado, passou por toda a ponte ao passar a primeira curva da estrada apeou de seu cavalo e voltou em direção à ponte de onde também se atirou.


Curioso porque ele simplesmente não parou com seu cavalo sobre a ponte, fez este trajeto para depois voltar e se matar.
Simples, ele não queria que seu animal, que ele também amava tanto, sofresse vendo o amigo, seu dono, no desespero, tirar sua própria vida.


Esta é a história a respeito desta jovem e do cavaleiro, o senhor não sabia desta história tão antiga.
Confesso que sim, mas como lembrar quando se está tranquilo concentrado nos movimentos de uma linha de pesca e de repente avista uma cena como a que vi.


Não tinha como me lembrar deste acontecimento tão antigo.
Foi uma loucura, uma sensação horrível, vê e nada poder fazer e era tão real.
Eu sei, de tempos em tempos alguém passa pelo que o senhor passou, é uma história muito triste para o pai e sua filha.
Deixei a delegacia com uma imensa curiosidade em conhecer toda a história desta família, deste pai com sua tão amada filha.
Ainda bem que é só uma história atualmente, mais uma história que me deu um imenso susto.



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