Os
suicidas.
Uma jovem se encontrava sozinha e estava
debruçada sobre o parapeito da ponte, seu olhar estava perdido na
distância que sua mente lhe fazia enxergar.
Tudo que a
atormentava parecia agir fortemente em seus pensamentos naquele
momento, pois parecia hipnotizada vendo as águas do rio que não
paravam nunca.
A impressão que tive era de que ela pretendia se
jogar.
Dizem que os suicidas não se preparam, chegam e se
atiram, mas ela parecia estar refletindo, questionando todos os
motivos que a trouxeram ali.
Me senti tomado por uma imensa
agonia, jamais pensei presenciar tal fato e, o pior, sem chances de
poder impedir.
A moça parecia decidida a se atirar nas águas
daquele rio e eu me encontrava a uma boa distância dela, às margens
do rio pescando.
De
onde estava, tinha a visão perfeita da garota graças a um potente
binóculo que trazia sempre comigo.
Gostava
de contemplar as correntezas que se faziam um pouco acima de onde eu
estava e também por mania.
São
muitas as pessoas com manias, umas não saem de casa sem seu celular,
outras sem colocar seu anel da sorte e proteção no dedo, outras sem
sua câmera fotográfica, eu não saio sem meu binóculo.
Eu
mantinha meus olhos grudados na figura da garota, acompanhava cada
reação facial que seu rosto fazia no momento de seu pensamento. Vi
as lágrimas deslizarem por sua face, gostaria de poder estar ali ao
lado dela, falar com ela, tentar mostrar que a vida e muito mais que
desilusões sejam amorosas ou não.
Dali
onde eu estava, só podia fazer uma coisa por ela rezar para que
alguém apareça e consiga a convencer a desistir de tal ato.
O
lugar era no meio do nada, a vários quilômetros da cidade, poucas
pessoas passavam por aquela ponte.
Uma ponte feita de madeira,
uma ponte rústica que servia para passar com o gado que era usada
pelos fazendeiros da região.
Eu ansiava pela presença de
alguém ao lado dela e rezava para que este milagre acontecesse.
Meu
desejo foi tão forte que avistei na estrada um cavaleiro seguindo na
direção da ponte, rezei mais ainda para que ele a alcançasse antes
dela se atirar nas águas.
Ele
estava próximo, muito próximo, eu, angustiado, pedia a Deus que
permitisse que ela fosse socorrida.
O
cavaleiro estava sobre a ponte, grassas a Deus, suspirei aliviado,
mas para surpresa minha, ele não parou e nem sequer olhou em direção
da garota, que em seguida se atirou na água.
O
desespero tomou conta de mim naquele momento.
Vi a garota se afogando e o homem do cavalo se distanciando. Gritei com toda força que tive pelo socorro àquela criatura, mas o cavaleiro sumiu em uma das curvas da estrada e a garota desapareceu naquelas águas.
Juntei
todo meu material de pesca e me pus a voltar para a cidade. Precisava
comunicar às autoridades o ocorrido para que fosse feita a procura
pelo corpo da jovem e se descubra quem era ela, e quem era o
cavaleiro que podia ter evitado aquela tragédia e não se importou
antes e nem depois dela ter se atirado no rio.
Senti
algo estranho no comportamento dele, era como se ele não a tivesse
visto, que era empecível não ter enxergado uma jovem tão bela
usando um vestido de cores fortes, a não ser que o cavaleiro fosse
sego e o cavalo treinado, assim como fazem com os cães.
Eu
me sentia curioso e muito revoltado com a atitude da pessoa que não
se importou com a vida da garota.
Era
meu costume caminhar, gostava de fazer e duas vezes por semana eu
pegava a estrada à procura de um bom local, seguindo rio abaixo para
pescar.
Às
vezes, andava horas despreocupado sem um pingo depressa, mas naquele
momento o que mais queria era chegar na cidade e procurar por
ajuda.
Contei
para o delegado tudo que presenciei, detalhe por detalhe, tanto da
garota como do cavaleiro, ele me ouviu sem me interromper e quando
terminei, para surpresa minha, ele sabia o nome do cavaleiro, que se
chamava Pedro Tinham, sabia a cor do cavalo, marrom com manchas
brancas.
Fiquei
mais surpreso ainda quando me falou o nome da garota. Rebeca era pai
e filha, ambos suicidas.
Ela
se atirou ao rio, porque o pai a proibiu de namorar um jovem
empregado da fazenda.
Ela
era filha única e ele o pai a tinha como uma joia somente sua, que
ao saber que a garota havia se atirado ao rio de cima daquela ponte
seguiu direção a mesma montado em seu belíssimo cavalo malhado,
passou por toda a ponte ao passar a primeira curva da estrada apeou
de seu cavalo e voltou em direção à ponte de onde também se
atirou.
Curioso
porque ele simplesmente não parou com seu cavalo sobre a ponte, fez
este trajeto para depois voltar e se matar.
Simples,
ele não queria que seu animal, que ele também amava tanto, sofresse
vendo o amigo, seu dono, no desespero, tirar sua própria
vida.
Esta
é a história a respeito desta jovem e do cavaleiro, o senhor não
sabia desta história tão antiga.
Confesso
que sim, mas como lembrar quando se está tranquilo concentrado nos
movimentos de uma linha de pesca e de repente avista uma cena como a
que vi.
Não
tinha como me lembrar deste acontecimento tão antigo.
Foi
uma loucura, uma sensação horrível, vê e nada poder fazer e era
tão real.
Eu
sei, de tempos em tempos alguém passa pelo que o senhor passou, é
uma história muito triste para o pai e sua filha.
Deixei
a delegacia com uma imensa curiosidade em conhecer toda a história
desta família, deste pai com sua tão amada filha.
Ainda
bem que é só uma história atualmente, mais uma história que me
deu um imenso susto.